segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Quando um é bom

O número de filhos únicos não pára de crescer no Brasil e no mundo. Agora que eles são tantos, será que não está na hora de derrubar aquele rótulo de mimado e solitário? Fomos investigar como é a vida hoje de uma criança sem irmãos
Mônica Manir

Há algumas décadas, filho único era praticamente sinônimo de criança superpaparicada, egoísta, um pequeno tirano que faz gato e sapato dos pais. Em geral, apenas uma razão podia justificar o fato de a família ter parado numa criança só: a impossibilidade de ter outras, quase sempre por infertilidade. Hoje, o filho único está virando opção do casal. Uma opção cada vez mais freqüente, como mostram as estatísticas. Segundo o último censo, realizado em 2000, 9,5 milhões de famílias brasileiras têm um herdeiro só. É um crescimento de 50% em relação ao censo anterior, realizado em 1991. Nos Estados Unidos, mais de 20% das famílias estão na mesma situação. Sem falar na China, que, com sua política de filho único, decretada em 1979, viu mais de 90% das crianças que vivem na área urbana, a maioria meninos, levar sozinhas o nome da família.Mesmo reconhecendo que não há espaço para mais uma criança em casa, muitos desses pais ainda se perguntam se irmãos fazem falta. Temem que o filho cresça como o estereótipo do passado - mimado, solitário, dependente e consumista de carteirinha. "É preciso rasgar esse rótulo, que só serve para aumentar o preconceito contra o filho único", alerta Ceres Alves de Araujo, psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em primeiro lugar, explica ela, faz diferença ser uma opção e não a alternativa que restou. "Hoje, a criança sabe que os pais até poderiam ter tido outro filho se de fato quisessem", afirma a psicóloga. Isso os deixa mais armados contra uma possível chantagem emocional, do tipo "sou o único que restou, tenho um valor imenso, portanto quero que façam todas as minhas vontades". Demonstrar outros interesses na vida, que não só a criança, também tende a diminuir a maternagem excessiva, a dosar o mimo, impor limites e, por tabela, aumentar a autoridade dos pais dentro de casa. Outro preconceito que foi por água abaixo é a tese de que o filho único é necessariamente uma criança solitária. Para Carolyn White, autora do site americano www.onlychild.com, isso nunca foi verdade. Ela acredita que o filho único é naturalmente mais sociável do que as demais crianças por uma questão de sobrevivência. Explica: quem tem irmãos acaba se acomodando e nem sempre parte para novas amizades. Já o filho único precisa se relacionar com estranhos (e não-estranhos) para conseguir o que quer. "As melhores amigas da Jade na escola e no condomínio não têm irmãos", ressalta a professora de artes Nara Silvane Butturi, 39 anos. "Isso faz com que ela se sinta uma criança comum, igual às outras", deduz a mãe. O ingresso cada vez mais precoce na escolinha, saída para pais que trabalham fora de casa, ajuda na sociabilização. "É a oportunidade que a criança tem de aprender a dividir brinquedos, a expressar a raiva, a lidar com o ciúme e a competir por atenção", enumera Annelise Scappaticci, psicanalista infantil e terapeuta familiar.

http://claudia.abril.com.br/edicoes/511/aberto/claudia_bebe/conteudo_136582.shtml

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